Cresci acompanhando nas manhãs de sábado o desenho dos 101 Dálmatas, no qual Cruella de Vil estava sempre em busca dos dálmatas para fazer um belíssimo casaco com suas peles 😳. “Só” isso já a torna a pior vilã de qualquer outra história do universo Disney. Confesso que quando soube do lançamento de seu próprio filme fiquei curiosa, ainda mais com o trailer que nos foi apresentado:
Seu lançamento aconteceu em 27 de maio no Premier Access do Disney+, porém a produção ficou disponível para todos os assinantes da plataforma no dia 16 de julho.
Assisti e o filme simplesmente me surpreendeu! Desde a trilha sonora, os maravilhosos looks escandalosos, a maquiagem, o contexto histórico e a rebelde reviravolta da personagem, interpretada por Emma Stone. São muitos pontos que posso abordar aqui, mas gostaria de falar principalmente do punk rock, afinal o longa se passa nos anos 70, época em que o movimento ganhou força em Londres, o qual tem uma forte influência em nossas vidas até hoje. Então vem comigo recordar um pouco da cultura punk rock e se inspirar na insubordinação de Cruella com seus looks icônicos. 🤘🏻
O espírito do punk rock
Desgastados pela longa Guerra do Vietnã (1955 – 1970) e insatisfeitos com o governo do presidente Richard Nixon, os jovens americanos contestavam o modus operandi da sociedade e ansiavam por transformação.
Esse cenário serviu como palco para o movimento punk, que surgiu em meados da década de 70 em Nova York. Com ideais rebeldes e anarquistas, tinham como objetivo criar uma sociedade mais justa, igualitária, sem exploração econômica e livre.
Na época, o rock progressivo e o movimento hippie estavam em ascensão. Porém, muitos jovens não se identificavam com a ideologia de amor, paz e coletividade pregada pelos hippies e desejam algo que fugisse do lugar comum.
Toda essa revolta foi transferida para as vestimentas e letras das músicas, que protestavam e criticavam o sistema. Dentro desse contexto surge uma das bandas que deu início ao movimento: Ramones.
Enquanto o punk crescia de forma tímida nos Estados Unidos, na Inglaterra o movimento chegou com tudo e se fortaleceu muito – inclusive o filme Cruella se passa em Londres, cidade símbolo do movimento punk rock.
Vivienne Westwood, o ícone da moda punk
Os jovens que se identificavam com o movimento e assumiram uma postura contestadora utilizavam roupas provocativas e “fora do padrão” da época, como jeans rasgados, cabelos moicanos, jaquetas de couro e maquiagens pesadas.
Mas, quando falamos de moda punk é IMPOSSÍVEL não mencionar Vivienne Westwood. Em 1971, Vivienne e seu marido Malcolm Mclaren (empresário da banda Sex Pistols, a maior representante do movimento) abriram a boutique SEX em Londres, na 430 Kings Road, rua considerada o ponto de encontro dos jovens underground e rebeldes.
As roupas produzidas pela estilista eram extravagantes e únicas. Abusavam das cores fortes e chamativas, eram cheias de recortes assimétricos e pontiagudos, muitos rasgos e frases provocativas. Ela conseguiu traduzir com perfeição o estilo punk, tornando-se referência para os jovens punks.
Além disso, Vivienne era responsável por criar os figurinos e identidade visual dos integrantes da banda Sex Pistols. Mesmo com o fim do grupo em 1978, ela continuou produzindo peças incríveis e em 1981 fez seu primeiro desfile em Londres.
Graças ao seu talento incontestável, não demorou muito tempo para ser reconhecida como uma estilista única e revolucionária. É fascinante pensarmos que Vivienne conseguiu levar um movimento 100% urbano para a alta costura.😍
Se você quiser conhecer um pouco mais da sua história e influência na moda punk, recomendo assistir ao filme “Westwood – Punk, Ícone, Ativista” (2018).
Os principais looks da vilã mais estilosa da Disney
Em Cruella, todas as peças foram preparadas por Jenny Beavan, figurinista vencedora dos Oscar por seu trabalho em Uma Janela Para o Amor (1985) e Mad Max: Estrada da Fúria (2015).
Ao todo, foram montados 277 looks para o elenco principal, destes 47 foram usados pela vilã. Uma mega diferença quando comparamos com o desenho animado, em que o visual se resumia em um vestido preto decotado e um casaco de pele.
A cartela de cores da Cruella são basicamente o preto, branco, cinza e vermelho; paleta bem diferente da utilizada pela Baronesa, sua grande adversária, que prefere marrom e dourado. Durante o filme, fica bem claro que Cruella usa a moda e as roupas como uma forma de desafiar e ofuscar sua rival, as roupas são como se fossem suas armas.
Segundo Jenny “A Cruella transforma um design típico e simples da Baronesa em um visual mais “destruído”, criando uma antítese. É provavelmente aí que o elemento punk mais entrou.”
A figurinista conta que suas maiores inspirações foram Vivienne Westwood, Nina Hagen, Sex Pistols e Alexander McQueen. Porém, também rolou muito garimpo em feiras vintages de Londres, Nova York e Los Angeles. Confira alguns looks icônicos da vilã mais estilosa da Disney. (atenção, pode conter spoilers!)
01. O futuro
Esse visual é punk rock puro! A personagem principal o utiliza quando aparece na festa da Baronesa e, claro, chama a atenção de todo mundo. O look é composto por uma jaqueta preta de couro com ombreiras e calça dourada de brilhos, porém o toque final é sua maquiagem escrita “The Future”. Realmente, é impossível não roubar a cena todinha pra ela.
02. Vestido vermelho nada básico
Em comparação aos outros looks, esse vestido é mais discreto. No entanto, ele consegue ser super chique e ousado ao mesmo tempo. Para deixar o visual mais “Cruella”, a personagem utilizou uma máscara preta e luvas.
Jenny explica que sua inspiração foi o vestido “Tree” de Charles James, um dos estilistas mais influentes do século XX, mundialmente conhecido por seus vestidos de alta costura.
03. Vestido de Organza
Se o look anterior era mais discreto, esse é totalmente o oposto. Para fazer o vestido foram utilizados 393 metros de organza e mais de 5 mil pétalas de flores costuradas à mão. Uma verdadeira obra de arte!
04. 101 dálmatas
No desenho dos 101 dálmatas, Cruella é obcecada por roupas feitas com peles de animais. Porém, no live action, a Disney optou por adotar um discurso menos agressivo e não mencionar essa questão durante o filme.
Apenas nessa cena a vilão utiliza um casaco que insinua ser feito com pele de dálmatas, se aproximando bastante da versão que conhecemos do desenho animado. No entanto, é importante frisar que toda pele usada no figurino de Cruella é falsa.
Em entrevistas, a figurinista Jenny sempre ressalta que: “não usamos nenhuma pele de animal. O padrão de dálmatas, por exemplo, foi impresso em um tecido feito de pele falsa e veludo. Mesmo os figurantes usaram peles falsas”.
05. Do lixo ao luxo
Essa cena também é super marcante. Nela, Cruella simplesmente sai de um caminhão de lixo com um vestido mega elaborado, provocativo e dramático. Ousadia pura!
Seja quem você quiser ser!
A jovem Stella, (que também é Cruella) sonha em ser uma estilista da alta costura, no entanto, escuta durante sua infância que precisa se moldar ao que a sociedade prega: “seja uma garota comum, que pouco aparece e faz tudo o que mandam”. Só que seguindo este caminho ela não alcança o tão almejado sucesso. Porém, assumindo a persona de Cruella o cenário muda por completo. Ela passa a desafiar sua rival (A Baronesa) por meio dos looks ao longo da trama e ganha a atenção de todos.
Indo além de Cruella, gostaria de citar outros dois filmes que vi recentemente. São eles: Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta e How to Build a Girl.
Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é um filme da Netflix, que foi lançado em março deste ano (2021) e conta sobre como uma garota tímida – Vivian (Hadley Robinson) – luta contra o sexismo em seu colégio. Ela tem como inspiração a época de adolescência de sua mãe, que foi integrante do movimento punk feminista. Ao mergulhar na luta feminista, Vivian passa a publicar uma fanzine entitulada Moxie, e vira uma verdadeira revolução na escola. Além disso, ela se apodera de uma jaqueta de couro de sua mãe, que está repleta de botons com frases e símbolos políticos.
Já o filme How to Build a Girl (Como se Tornar Influente), lançado em 2019, conta sobre como a inteligente adolescente Johanna Morrigan (Beanie Feldstein) se torna uma crítica de música em um ambiente tipicamente masculino. Para encarar esta função ela assume o pseudônimo de Dolly Wilde e com ele o pacote completo: looks repletos de meia arrastão, coturno, cabelo tingido e uma cartola, no melhor estilo Willy Wonka.
As três histórias reúnem, além do estilo punk rock nos looks, a essência que este movimento representa. A beleza está em ser quem você quer ser, confortável com sua própria aparência, em assumir seu verdadeiro eu sem medo de julgamentos. Uma atitude punk rock é abraçar tudo o que você é!
Amei conhecer mais sobre o punk e identificar essa referência no filme! 👏🏽👏🏽👏🏽
Oii, Dai! Confesso que sou suspeita, pois sempre amei o estilo punk rock. hehehe
Aderi lá na adolescência e até hoje trago referências para alguns looks.
Fico feliz em saber que está gostando do conteúdo.
Beijo! 😘