Se menstruar é divino, por que ainda é tratado como algo “impuro”?

28 de maio de 2021
Sabia que 1 em cada 4 adolescentes faltam aula por não poderem comprar absorventes? Vem comigo entender mais sobre pobreza menstrual e o que você pode fazer para mudar este cenário.
Tempo de leitura: 4 min

No dia 27 de maio de 2021, logo ao amanhecer, fui impactada pela hashtag #MeninaAjudaMenina no Twitter, uma campanha promovida pela marca de absorventes Always, da P&G. A campanha, que termina no próximo dia 30 e está no ar desde dezembro de 2020, tem como objetivo distribuir 1 milhão de absorventes em todo o Brasil por meio de uma ação ‘compre e doe’. O objetivo é ajudar a combater a pobreza menstrual no país.

Caso o termo pobreza menstrual seja novo para você, segue aqui uma breve explicação:

A pobreza menstrual, também chamada de precariedade menstrual, é o termo dado à falta de acesso a produtos para manter uma boa higiene no período da menstruação, e está relacionada à pobreza, bem como à infraestrutura do seu ambiente, especialmente de saneamento. Wikipédia.

Confira alguns dados levantados pela campanha, que contou com a participação de 1.124 mulheres entre 16 e 29 anos das 5 regiões do país:

  • 1.8 bilhão de mulheres menstruam em todo o planeta. A ONU estima que 1 em cada 10 meninas falte à escola durante a menstruação.
  • No Brasil este números são ainda piores: 1 em cada 4 mulheres já faltou a aula por não poder comprar absorventes.
  • Cerca de 48% destas mulheres tentou esconder que o motivo foi a falta de absorventes.
  • 45% delas acredita que não ir à aula por falta de absorventes impactou negativamente o seu rendimento escolar.

As análises não param por aí:

  • 50% das entrevistadas já precisaram substituir o absorvente por papel higiênico, roupa velha, jornal, pano de chão, papel higiênico e até miolo de pão.
  • A utilização destes itens inadequados na menstruação pode causar infecções no trato urinário, nos rins e até lesões nos órgãos reprodutores femininos.

Compartilho aqui alguns comentários que fui acompanhando no Twitter:

Absorvendo o tabu

A campanha da Always Brasil lança luz para um assunto que em pleno século XXI ainda é tabu: a menstruação! Esse tabu é uma mistura de falta de conhecimento, preconceito, medo… enfim; questões que nunca são faladas em casa, na escola ou no trabalho.

Quando você, mulher, está no trabalho, percebe que a menstruação desceu e vê que esqueceu de trazer o absorvente contigo, logo chama uma colega de trabalho e diz baixinho: “Você tem um absorvente para emprestar?”, certo? Ela então te passa aquele pacotinho como se fosse um pacote de drogas. Você olha pros lados, esconde o pacotinho no bolso e sai correndo até o banheiro mais próximo como se estivesse fugindo da polícia. 😳 Até quando vamos tratar a menstruação como algo tão terrível e proibido?!

A menarca – primeira menstruação – ocorre normalmente entre os 10 e 14 anos de idade. Termina após a menopausa, que geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos de idade. São mais de 40 anos menstruando todo mês! Menstruar é divino, saudável e natural.

Entendo que a iniciativa da campanha #MeninaAjudaMenina é boa, mas uma marca tão grande quanto a Always Brasil pode fazer melhor que isso. Para começar, os absorventes descartáveis, além de causarem impactos terríveis ao meio ambiente, podem ocasionar alergias e infecções, devido à sua composição. Confira neste texto mais detalhes: Absorventes modernos: conheça os principais modelos da atualidade.

  Brechós e seu papel na moda consciente

No mercado já é possível encontrar diversas alternativas ao uso de absorventes descartáveis, como os coletores menstruais, as calcinhas absorventes e os absorventes de pano. Penso que sim, é possível extinguir o uso dos absorventes descartáveis com iniciativas de empresas como a Always Brasil e até do governo. Mas agora te pergunto: por que isso não é feito? Por que os absorventes não-descartáveis ainda não ganharam o mercado de vez? Será pelo custo de produção? Ou pior que isso, o preconceito?

Visibilidade menstrual

Ainda poucas pessoas sabem (me incluo aqui até escrever este texto), mas no dia 28 de maio celebramos a visibilidade menstrual: um movimento mundial voltado para a conscientização da importância dos cuidados e o direito de acesso a produtos básicos, como os absorventes.

Somado à pobreza menstrual, temos a falta de saneamento básico aqui no Brasil. Segundo a ONG Trata Brasil, 1,6 milhões de pessoas não têm banheiro em casa, 15 milhões não recebem água tratada e 26,9 milhões moram em lugares sem esgoto.

Diante de tudo isso te convido para nos libertarmos e fazermos as pazes com os nossos ciclos. É possível ir além e nos tornarmos agentes de mudanças nas nossas comunidades. E o que podemos fazer para mudar este cenário? Vem comigo: ❤️

01. podemos reconhecer a beleza de cada parte do seu ciclo e do seu corpo, e falar sobre isso!

02. buscar informações para entender os tabus que fazem a menstruação ser algo “sujo” ou “impuro”.

03. atentar para a realidade econômica da população, onde o acesso à produtos de higiene menstrual é restrito. É nosso direito e dever cobrar dos governantes projetos que assegurem produtos de higiene menstrual como um direito básico.

04. participar ou criar iniciativas locais para arrecadar e distribuir produtos de higiene pessoal com responsabilidade.

Podemos lutar juntas pela dignidade menstrual para todas! ❤️🩸

AUTORA:

Idealizadora e fundadora do essa roupa tem história, sendo responsável pela curadoria e criação dos conteúdos. Formada em Design de Moda e com MBA em Gestão de Marketing, vê a moda como a arte de entender o outro e a si mesmo através da roupa, afinal toda peça de roupa tem uma história pra contar!

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