Vício em compras! Está aí um jeito bem agressivo de chamar esse hábito que atinge tantas e tantas pessoas, e que já se tornou um problema mundial.
Passar em frente a uma loja ou, ainda, acessar uma loja virtual e comprar aquele casaco maravilhoso que está com 50% de desconto é muito tentador, não é mesmo?!
Agora, se você concorda com essa frase, saiba que esta é só mais uma das desculpas para justificar o vício em compras. E quem não cria regras para viver neste nosso mundo consumista, passa diversas vezes por esse tipo de situação.
E foi assim que me vi por muitos e muitos anos, comprando, principalmente roupas, de forma compulsiva e sem perceber ou reconhecer que estava passando dos limites. Dos limites do cartão de crédito, dos limites de espaço para guardar todas aquelas peças de roupas, dos limites das minhas despesas… Afinal, é só uma comprinha sem importância e a sensação momentânea é tão boa.
A frase que não saía da cabeça no início de todo mês era: “esse mês vou economizar… Ahh, olha uma brusinha nova!”
Cenas da infância
Recentemente, durante minha sessão de psicanálise, cheguei ao tema do blog essa roupa tem história. Contei para meu psicanalista que estava tendo dificuldades de escrever novos textos neste espaço que tanto sonhei em construir. Foi então que durante a sessão chegamos a um momento da minha vida que me marcou muito.
Na terapia, descrevi como eu sempre via a minha mãe muito bem vestida, com roupas novas. Já eu, no entanto, ainda muito pequena, me sentia, por assim dizer, abandonada; eu estava sempre com a mesma calça de uniforme azul marinho – com aquela clássica listra branca do lado – de All Star e com aquele moletom de segunda mão que tinha ganho de uma prima, pois não servia mais para ela.
Quando olhava minha mãe, vinham pensamentos como: “Quando crescer quero ser como minha mãe: bonita e bem vestida”, “Por que será que minha mãe não me dá roupas novas e melhores?”, “Quando eu crescer, vou trabalhar para ter meu dinheiro e comprar o que eu quiser”. E foi com estes pensamentos que cresci!
Ao final daquela sessão de psicanálise chorei bastante, mas também fiquei confusa – como quase sempre fico 🥴 – com lembranças tão intensas. Com o passar dos dias fui percebendo como essas lembranças me afetaram e ainda me afetam até hoje.
Lembranças da infância que nos afetam na vida adulta
Lembrar daquela cena com minha mãe e dos pensamentos que me vinham naqueles momentos, me fez perceber que durante muito tempo usei a roupa – ou melhor dizendo, as compras de roupas – como forma de suprir necessidades dentro de mim. Necessidades como: amor, carinho, atenção, cuidado familiar. Era como se cada compra que eu fizesse preenchesse um vazio no coração. Só que ao fazer isso, o coração continuava pequeno como antes, porém a única que ficava cada vez mais vazia era minha conta no banco. 💸
De acordo com Kevin Leman – autor do livro O que as lembranças de infância revelam sobre você: e o que você pode fazer em relação a isso:
“As lembranças da infância detêm a chave para você entender quem você é neste momento, a fim de que possa encontrar liberdade e satisfação.“
Uma lembrança do passado está ali para nos ensinar algo e é dessa forma que olho para essa cena com minha mãe. Passei boa parte da minha vida convivendo com minha ela, então não é surpresa que ela tenha me influenciado de alguma forma, seja para o bem ou não.
Diante deste fato, passei a relembrar meus momentos de compras impulsivas que fiz no passado e quais os sentimentos que aquelas compras me traziam. O famoso oneomania (também se escreve oniomania), nome dado para o vício em compras, que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a oneomania como um transtorno do controle de impulso que, segundo estimativas internacionais, atinge 8% da população mundial.
Minhas compras impulsivas foram se tornando ciclos viciosos, pois sentia a necessidade de ter variedades de uma mesma peça – eu tinha o mesmo casaco em mais de uma cor 😳 –; sempre achava que não tinha sapatos adequados para combinar com cada look e o pior é que comprava, usava poucas vezes, para depois abandonar o coitado no armário; comprava peças que iria usar uma única vez para um evento, mas não pensava se aquela roupa combinaria com outras peças minhas do guarda-roupa.
E guardar toda essa quantidade de roupas e acessórios?
Minha família é de origem simples – sim, contei ali no começo que minha mãe comprava peças novas de roupa para ela, mas na cabeça de uma criança isso é riqueza, só que a realidade era outra – e a maioria das coisas que eu tinha vinham de segunda mão, eram doações principalmente de familiares. Lembro de um guarda-roupa que ficou comigo por muitooo tempo. Ele tinha uma cor amarelada, quase caramelo, os pés eram bambos e as roupas que ficavam lá dentro saíam com um cheiro ruim. Eu realmente não gostava dele!
Tinha comigo, durante a infância e adolescência, que eu teria um grande guarda-roupa onde eu pudesse colocar todas as minhas coisinhas. E foi isso que aconteceu! Não lembro ao certo, mas eu devia ter uns 30 anos quando comprei o guarda-roupa gigante que sempre quis. Passei a encher de cabides e caixas para guardar todos aqueles sapatos, que só cresciam em quantidade.
Estou relatando tudo isso só para você ver até onde o consumo em excesso pode ir. Agora imagina se eu tivesse guardado boa parte desse dinheiro que gastei ao longo destes anos?! A Nath, do Me Poupe!, sabe bem do que estou falando. 🥄😉
Autocontrole e autoconhecimento
Hoje vejo que meus impulsos por compras estão mais controlados – não esquecidos, pois é como um vício em drogas, onde a qualquer momento você pode cair –, mas nem sempre foi assim. Já devi para o banco por estourar o cartão de crédito, já pedi dinheiro emprestado para a família para quitar dívidas e meu nome já esteve sujo na praça por um bom tempo. 😯
Não lembro exatamente quando, mas em um dado momento vi que estava me afundando em dívidas por causa de compras impulsivas e precisava dar outro rumo para minha vida. Consegui me controlar, paguei as dívidas de cartões de crédito(!) e comecei a pagar a vista aquelas compras impulsivas, pois quando você vê o dinheiro saindo da sua conta corrente o sentimento é outro, vem uma sensação de perda instantânea.
Passei a ver meu guarda-roupa com outros olhos, a entender meu estilo, a escolher melhor minhas roupas e pasmem, comecei a frequentar brechós – aguarde, pois logo vou trazer estes temas aqui no blog! É curioso o fato de ter me apaixonado por brechós, dado que na infância eu não gostava de ganhar as roupas de segunda mão das minhas primas. Mas aprendi muito sobre onde e como escolher as melhores peças.
O que vem agora…
Vasculhar minhas lembranças de infância me ajudou a entender quem sou hoje, o que posso mudar para ser alguém melhor e como me relacionar com quem está perto. Esse vasculhar o passado não se trata de remoer o que passou e sim aprender com ele.
Para mim, entender meu vício por compras me fez ver feridas que precisam ser cuidadas e cicatrizadas. Muito melhor do que virar as costas para nosso passado é acolhê-lo com carinho e atenção.
E o blog essa roupa tem história vem justamente para dar um novo significado para meu passado da infância e do meu passado das compras impulsivas. 👗
Agora me diga: o que seus vícios dizem sobre você?
Já parou para pensar nisso?
Compartilhe comigo nos comentários. Vou adorar ler seu relato. 🧡
Ahh… Estava quase esquecendo, pois tenho uma ótima indicação de filme sobre este tema. É o Confessions of a Shopaholic (Os Delírios de Consumo de Becky Bloom), que é um filme de comédia romântica lançado em fevereiro de 2009, baseado na série de livros Shopaholic (“Delírios de Consumo”) da escritora britânica Sophie Kinsella.
Divertido, ele te faz pensar muito sobre nossos impulsos de comprar.
Se você ainda não viu, assista este filme. 🍿🎥
Confira o trailer:
[…] do brechó na moda consciente. Eu, particularmente, AMO brechós e inclusive tenho um próprio! Nesse texto conto um pouquinho sobre ele. E você, tem o costume de comprar em brechós? Compartilhe […]