“O black é a coroa e o pente a libertação” – Entenda o movimento Black Power

1 de maio de 2021
Você sabe a origem do Black Power? Ele é muito mais que um penteado, é um símbolo de luta e de resistência. Entenda tudo sobre a fala de Tiago Leifert, no BBB21.
Tempo de leitura: 7 min

Sumário

Há alguns anos eu não acompanhava uma edição do Big Brother Brasil do começo ao fim, mas essa me chamou atenção. Inicialmente, pela participação de minha conterrânea Karol Conká, e todo o alvoroço que ela provocou durante as quatro semanas que ficou confinada na casa mais vigiada do Braseeeeel!

Ao longo dos dias continuei acompanhando pois, como todo brasileiro, também gosto de fogo no parquinho. 🔥 No entanto, muito me tocou a situação pela qual João Luíz passou quando ouviu do brother Rodolffo que seu cabelo era igual a peruca do monstro homem das cavernas. O ocorrido foi no dia 03 de abril; dois dias depois João Luíz tornou pública sua dor durante o jogo da discórdia, deixando claro o quanto aquela “brincadeira” o tinha machucado.

João Luiz durante o Jogo da Discórdia | BBB21

 

Foi então que no dia 06 de abril, ao encerrar as votações do paredão e anunciar o eliminado, o apresentador Tiago Leifert fez um discurso sobre seu lugar de fala a respeito do racismo.

Compartilho aqui alguns trechos da fala do Tiago, justamente para que todos entendam o que é o movimento Black Power e qual a importância do movimento negro.

“Eu queria falar com meu amigo Rodolffo. Vendo o que aconteceu ontem no jogo e vendo a forma como você se defendeu na hora, me preocupou e é por isso que eu tô aqui pra conversar com você de homem branco pra homem branco”, disse.

[…]

“Um cabelo black power, como é o cabelo do João, não é um penteado, é mais que um penteado, é um símbolo de luta, de resistência. Foi o que os pretos americanos usaram como símbolo antirracista. Eles usavam o black power para mostrar para as pessoas que eles se aceitavam, se amavam”, falou.

“Porque até pouquíssimo tempo atrás, uma pessoa como o João, como a Camilla, lá nos Estados Unidos, tinha que se levantar de um banco para um branco sentar. Não podia ir a um restaurante. Então, historicamente, o cabelo do João foi associado a uma coisa errada, a uma coisa suja, a uma coisa feia”, disse.

“E é por isso que quando a gente faz comentários sobre o cabelo do João, a gente não tá falando de penteado que é o que você tá fazendo. Você está falando de um símbolo. Você está falando do que o João é, do que o João sente, do que o João viveu na pele, da história do João, da ancestralidade do João. Tem muito ali”.

[…]

“É por isso que nós, brancos, precisamos nos informar. Bora ver filmes no YouTube, pesquisar. Eles não querem mais ensinar, eles estão de saco cheio de ensinar. É a nossa obrigação ir atrás desse tipo de informação e não cometer esse tipo de erro mesmo que seja sem querer”.


Confira na íntegra o discurso de Tiago Leifert:


“Mas é só uma brincadeira”
, dizem eles


Seja uma “brincadeira” com ou sem a intenção de machucar, não há necessidade de falar absolutamente nada sobre o corpo do outro. Seja magro, gordo, negro, branco, amarelo, vermelho, baixo, alto, enfim… nada nos dá a liberdade ou o direito de opinar.

Quando falamos dos negros, antes de tudo, precisamos nos lembrar da dívida histórica que nós, brancos, temos com eles. Só no Brasil a escravidão durou três séculos. Três séculos, gente!!

Logo após a fala de Tiago, a participante Camilla de Lucas desabafou reforçando a fala do apresentador do BBB, dizendo que está cansada de explicar o que é racismo para quem não o sente na pele.

Camilla de Lucas se emociona com o discurso de Tiago Leifert | BBB21
Camilla de Lucas se emociona com o discurso de Tiago Leifert | BBB21


“As pessoas falam ‘ah é mimimi’. Estão cansadas de ouvir isso? Eu estou cansada de ter que falar também. Se é cansativo para vocês ouvirem, eu estou cansada de viver. Eu estou cansada de ficar explicando isso pra todo mundo (…). A internet está aí, o YouTube, vão se informar”
, disse a sister.

O preconceito é banalizado a cada mínima frase ou palavra. Não é porque algo não te afeta diretamente, que você pode transformar a dor do próximo em algo menor.


A história que está por trás do Black Power


Aqui no blog essa roupa tem história, gosto sempre de contar fatos históricos para vocês relacionados às roupas e o quanto elas impactam nossas vidas. No entanto, o cabelo, assim como a roupa, exerce papel fundamental na construção da personalidade de todos nós. No que diz respeito ao cabelo afro, não é diferente. Dentro das infinitas possibilidades dos cabelos afros, o black power carrega consigo muitos valores e simbolismos.

Reforçando a fala de Tiago, ao contrário do que muitos podem acreditar, o black power vai muito além de um penteado e traz consigo uma vasta história ligada ao movimento negro.

Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro
Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro


O black power é um símbolo de luta e resistência
tendo início lá nos anos 1920, com o ativista negro jamaicano Marcus Garvey. Foi ele quem difundiu a ideia de romper com os padrões de beleza impostos pela cultura européia. Garvey foi contra os procedimentos de alisamentos que tanto homens quanto mulheres já passavam naquela época. Seu objetivo era valorizar a beleza do cabelo afro, com seus fios crespos longos e naturais.

Já o termo black power (poder negro) foi citado em 1966, pelo também ativista, Stokely Carmichael. Foi após sua 27ª detenção, Stokely – líder da Comissão de Coordenação Estudantil Não Violenta (SNCC – Student Nonviolent Coordinating Committee) –, lançou a expressão Black Power. “Estamos gritando liberdade há seis anos”, anunciou Carmichael. “O que vamos começar a dizer agora é poder negro [black power]
Seu grito se espalhou pelo país e expressava a impaciência dos jovens diante dos contínuos ataques segregacionistas. O punho cerrado era o símbolo do movimento. ✊🏿

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A educadora e professora americana Angela Davis com seu icônico black power
A educadora e professora americana Angela Davis com seu icônico black power


Outro nome que merece grande destaque nessa mesma época é o da educadora e professora americana Angela Davis. Negra, mulher, feminista, ativista, marxista e, acima de tudo, militante.

Reprodução/The Black Panthers: Vanguard of the Revolution
Reprodução/The Black Panthers: Vanguard of the Revolution


Angela Davis era integrante dos Panteras Negras e foi símbolo da causa negra na década de 1960 nos EUA. Desde sua juventude, Angela ostentava um black power como forma de exaltar a cultura, a beleza e o movimento negro, além de intimidar opressores.


O black é a coroa e o pente, a libertação


Durante a edição do BBB20, o ex-participante Babu Santana deu uma aula sobre o empoderamento negro ao ser questionado sobre o uso do pente no cabelo:“O empoderamento black, libertação. Antigamente você não podia ter cabelo comprido que era ligado à sujeira, a alguma coisa feia ou subversiva. Quando você pega o pente e abre o black, o black é a coroa, e o pente é a libertação”, explicou.

Babu Santana dando uma aula sobre o empoderamento negro | BBB20


Como mulher branca, não tenho protagonismo para falar sobre racismo, afinal nunca senti isso na pele. Porém, tenho aqui meu lugar de fala, assim como o apresentador Tiago Leifert. Sei que é dever de todos enxergar e respeitar a beleza que existe na diversidade de cores de pele, nas formas dos corpos e dos tipos de cabelo. Entretanto não é só isso. A luta contra o preconceito e o racismo é minha e também é sua!

Vamos defender quem esteja passando por alguma situação de opressão, combatendo e denunciando – mesmo nas redes sociais. Isso é empoderamento!

A abolição da escravatura aconteceu no Brasil há apenas 133 anos. No entanto o negro ainda é vítima do que o período escravocrata causou. Estamos cansados de ver cenas de racismo transmitidas em rede nacional e cansados das desigualdades raciais no Brasil.

A cada 23 minutos um jovem negro é morto em nosso país; e a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. Isso quer dizer que, ao terminar de ler este texto e explorar mais do blog, mais um negro terá sido assassinado no Brasil!


Busque conhecimento


Aproveito e deixo aqui uma lista de filmes, séries e documentários que contribuem no entendimento sobre a importância do movimento negro, do Black Power e da luta contra o racismo. Confira!

Cena da minissérie “Olhos que Condenam”, da Netflix


Judas e o Messias Negro (2021)

O filme tem no elenco Daniel Kaluuyam, ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante. Ele interpreta Fred Hampton, o presidente do partido dos Panteras Negras de Chicago. Inspirado em uma história real, “Judas e o Messias Negro” mantém um clima de tensão, apresentando o impacto crucial da luta dos Panteras Negras contra o racismo e a brutalidade policial. A trama traz temas de reflexão como representatividade, racismo e desigualdades sociais.
📌Não está disponível em plataformas de streaming – pelo menos por enquanto.


Os Panteras Negras: Vanguarda da Revolução (2015)

Cansados das práticas segregacionistas, surge na década de 1960 um grupo para lutar por mudanças: o Partido dos Panteras Negras. Fundada em Oakland, Califórnia, a liderança trouxe controvérsias para o debate sobre o racismo. Este documentário traz diversas vozes que viveram essa história: desde a polícia até os que permaneceram fiéis ao partido.
📌Disponível no YouTube.


Eu Não Sou Seu Negro (2017)

Documentário dirigido pelo haitiano Raoul Peck, tem a seguinte frase apresentada em seus primeiros minutos: “A história dos negros na América é a história da América. E não é uma história bonita”. A obra traça a história racial dos EUA a partir dos assassinatos dos três grandes líderes negros: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King.
📌Disponível no YouTube Movies.


Infiltrado no Klan (2018)

Filme citado por Tiago Leifert, ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2019. Do diretor Spike Lee, conta a história do policial negro Ron Stallworth, que se infiltra na Ku Klux Klan e consegue sabotar e evitar ataques racistas e crimes de ódio.
📌Disponível no YouTube Movies.


Olhos que Condenam (2019)

A minissérie é baseada na história real dos Cinco do Central Park (Central Park Five), de 1989. Cinco adolescente negros são acusados de espancar e estuprar uma mulher branca. Coagidos pela polícia, os jovens são obrigados a confessar um crime que não cometeram, tendo assim suas vidas interrompidas, sofrendo condenações de 5 até 12 anos de prisão.
📌Disponível na Netflix.



O que achou das indicações dos filmes e séries? Compartilhe comigo nos comentários outros filmes que você acha que deveriam estar nesta lista. ✊🏿

Aproveite e confira minha playlist no Spotify “O black é a coroa”:

 

AUTORA:

Idealizadora e fundadora do essa roupa tem história, sendo responsável pela curadoria e criação dos conteúdos. Formada em Design de Moda e com MBA em Gestão de Marketing, vê a moda como a arte de entender o outro e a si mesmo através da roupa, afinal toda peça de roupa tem uma história pra contar!

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