Como sempre falo por aqui, música e moda estão intimamente ligadas. Afinal, ambas conseguem expressar de forma singular os movimentos sociais, traduzindo as inquietações e pensamento popular.
Aqui no blog já falei sobre como o Rock e o Pop Art influenciaram a forma como as pessoas se vestiam. Porém, reparei que nunca escrevi sobre a música e a moda brasileira. Então, decidi escrever esse texto.
Sem dúvidas, o Brasil é um país multicultural, que teve vários movimentos artísticos mundialmente conhecidos. Como nossa história é muito rica, irei focar naqueles que ocorreram na década de 50 e 60, que são os mais famosos – e também os meus preferidos😍. Vamos lá?
Bossa Nova
De forma bem resumida, antes da década de 50 o estilo musical que predominava no Brasil era o samba; ele trazia consigo batuques e elementos do pagode e rodas de capoeira. Mas foi com a Bossa Nova que os jovens passaram a se expressar com maior autonomia criativa.
O termo “Bossa” foi utilizado pela primeira vez em 1930 na música Coisas Nossas, de Noel Rosa. Na letra, ele diz: “O samba, a prontidão e outras bossas, são coisas nossas”. Na época, a expressão era empregada para se referir a um “jeito de fazer as coisas”.
Anos depois, alguns artistas se apropriaram do termo para sugerir que estavam produzindo música de uma forma diferente, originando a Bossa Nova. O movimento originou-se na zona
sul do Rio de Janeiro durante encontros de jovens artistas que hoje constituem grandes nomes na música brasileira. Alguns representantes são Carlos Lyra, Nara Leão, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e João Gilberto, sendo o último considerado o pai da Bossa Nova.
Esse estilo musical tinha forte influência da música erudita, samba carioca e do jazz norte americano. (Viu como o Brasil é multicultural?). Além disso, tinha como objetivo refletir um pouco sobre o dia a dia carioca. Por esse motivo, os compositores escreviam sobre temas cotidianos e utilizavam linguagem coloquial.
Uma das músicas mais famosas desse movimento é Garota de Ipanema, composta por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim. Outras composições famosas são: Eu sei que vou te amar (Tom Jobim), Águas de Março (Tom Jobim), Coisa mais linda (João Gilberto), entre outras.
Nesse período, a moda das brasileiras era influenciada pelo New Look de Christian Dior. As principais características eram a cintura marcada, saia godê, redonda e ampla. Em contrapartida, também tínhamos um movimento de liberdade feminina, em que as mulheres permitiam-se a utilizar calça, terninho e biquinis.
A blusa branca e os famosos vestidos babylook eram peças essenciais no guarda roupa da época. Outras características marcantes da época eram os delineados nas maquiagens e cabelo curtinho, no estilo chanel.
MPB (Música Popular Brasileira)
A expressão “música popular” já era utilizada no Brasil desde o século XX. No entanto, passou a ser empregada como referência a um gênero musical específico na segunda metade da década de 60, quando aconteceu o declínio da Bossa Nova.
Como expliquei no tópico anterior, a Bossa Nova tinha influência do samba e jazz americano. Além disso, tinha como objetivo criar músicas sofisticadas e que falassem sobre o cotidiano brasileiro.
Porém, a partir dos anos 60, surgiu outro grupo que tinha como propósito resgatar as origens da música brasileira, buscando inspiração nos ritmos tradicionais de diferentes regiões do país.
A MPB era vista pelos artistas como uma nova alternativa para a música brasileira. Grandes nomes desse movimento foram: Milton Nascimento, Chico Buarque, Edu Lobo e Elis Regina. Aliás, a música Arrastão, interpretada por Elis, é considerada o marco inicial da MPB.
Acredita-se que os maiores impulsionadores desse novo ritmo foram a popularização da TV e o início dos festivais de música. Agora, as músicas tinham mais visibilidade e os jovens passaram a frequentar festivais. Motivo que fez com que a MPB ficasse conhecida como “a música da universidade”, por ter os estudantes como o maior público.
A música popular brasileira foi uma das principais formas de protesto contra a Ditadura Militar no Brasil, que teve início em 1964 e perdurou até 1985. Com o Ato Institucional n° 5 (AI-5), muitos direitos importantes foram tirados da população, incluindo a possibilidade de se manifestarem politicamente.
Como forma de controle, foi criada a DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas), órgão responsável por ministrar todas as produções culturais feitas na época. Uma música só poderia ser veiculada caso fosse aprovada.
Para driblar o sistema e contestar a situação política do Brasil, os artistas utilizavam metáforas. Assim, conseguiam chamar a atenção dos ouvintes para os problemas políticos e sociais do país, mas sem levantar suspeitas. A música Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, por exemplo, virou um hino contra a Ditadura Brasileira.
Tropicália
Em 1967, tivemos o surgimento do movimento artístico chamado de Tropicália, que teve início no III Festival Popular de Música Brasileira com a música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.
O tropicalismo tinha como propósito promover uma revolução na estética e cultura brasileira, sem deixar de lado o protesto contra a repressão do regime militar.
As composições tinham letras ricas e misturavam jogos de linguagem, nem sempre compreendidos de primeira. As letras continham muito deboche e paródias, trazendo elementos da linguagem pop.
Além disso, propunham uma fusão entre diversos estilos musicais, como a cultura brega, pop, música erudita e rock psicodélico. Por esse motivo, conseguimos perceber uma forte presença de guitarras elétricas nas músicas.
No entanto, esse instrumento não era bem visto por uma parcela da população, pois acreditavam que ao utilizá-la, os artistas estavam trazendo a cultura imperialista estadunidense para o Brasil e americanizando a música.
Porém, os artistas defendiam que utilizar elementos de outros países não significava perder a identidade brasileira. Grandes nomes desse movimento são: Rita Lee, Tom Zé, Gilberto Gil, Jorge Ben, Nara Leão e Os Mutantes.
A tropicália causou uma verdadeira revolução cultural no país, inclusive no mundo da moda. A cultura hippie foi a principal influência; por esse motivo, os cabelos longos e roupas coloridas estavam muito presentes nos looks.
Também podemos observar o uso de muitos acessórios, calças boca de sino, peças indianas, roupas mais largas e símbolos brasileiros bordados nas roupas como adereço. Em relação a estética, quanto mais natural, melhor.
Jovem Guarda
Ainda na década de 60, tivemos a Jovem Guarda. Inicialmente, o nome “Jovem Guarda” era utilizado para se referir ao programa musical exibido na TV Record em 1965, que tinha como apresentadores os cantores Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa, todos em ascensão à época.
Posteriormente, o nome do programa ajudou a nomear o movimento musical Jovem
Guarda, iniciado nesse mesmo ano pelos mesmos apresentadores. Como estilo musical, a Jovem Guarda sofreu influências do rock and roll e do soul, tendo como fonte de inspiração as músicas de Elvis Presley, Rolling Stones e The Beatles.
Apesar de ser muito popular entre os jovens, a músicas da Jovem Guarda eram tidas como frívolas e alienantes pela crítica. Isso porque o movimento nasceu durante a Ditadura Militar e críticos musicais defendiam que as composições deveriam ser utilizadas como forma de protesto, igual a como os compositores do tropicalismo faziam.
No entanto, as letras da Jovem Guarda falavam sobre festas, liberdade e romance, fazendo com que fossem consideradas pobres. Entre as músicas mais populares temos: Eu te amo mesmo assim (Martinha), Festa de arromba (Roberto Carlos e Erasmos Carlos) e Quero que tudo vá para o inferno (Roberto Carlos).
Porém, mesmo não sendo bem aceito, o movimento tornou-se um dos mais populares do Brasil e deixou inúmeros legados. Diversas expressões que utilizamos hoje em dia (ou pelo menos a gente usava há alguns anos atrás) tiveram origem nessa época. As mais comuns são: estar por fora, ficar para tia, broto e, até mesmo, a nomenclatura boca de sino para as calças com a barra alongada.
Mas, não foi só no vocabulário que a Jovem Guarda teve grande influência. Como sempre, a moda foi um reflexo do movimento cultural que estava acontecendo. Os jovens utilizavam roupas extravagantes e estampadas, casacos de pele e looks coloridos.
Os homens apostavam em cabelos longos à la Elvis Presley, já as mulheres usavam minissaias e vestidos curtos. Wanderleia, inclusive, é considerada o maior ícone da moda feminina da época.
E aí, gostou de conhecer um pouco mais sobre a história da música brasileira? Somos um país muito rico culturalmente e devemos sempre procurar valorizar a nossa musicalidade, não é? Compartilhe comigo se você também curtiu ou curte alguns dos estilos que mostrei aqui no texto. 💗
Para entrar ainda mais no clima, recomendo uma das minhas séries preferidas, Coisa Mais Linda, da Netflix. Ela se passa no ano de 1959, ao som dos primeiros acordes da Bossa Nova, no Rio de Janeiro.
Aproveite e confira o trailer:
O texto mais esclarecedor sobre essa época que já li! Muito obrigada!
Seu bog está sensacional! Estou adorando!
Me refiro a Bossa Nova
Legal.
Em outra oportunidade, escreva sobre a importância que Alaíde Costa e Johnny Alf tiveram em todo o processo.